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segunda-feira, 25 de outubro de 2010

A 29a. Bienal de São Paulo e sua retórica no mundo das artes

A atual Bienal de São Paulo está na sua 29a. edição  e abriu este ano as portas  para uma discussão entre política e arte. É bom lembrar que no final de 2008, haviam dúvidas quanto ao futuro da Bienal de Artes de São Paulo. Uma das mais criticadas edições da história do evento, naquele ano a mostra ganhara o apelido de "Bienal do Vazio", por deixar um andar inteiro do prédio sem uma obra sequer.  Embora a Bienal possa parecer uma grande referência atual  no mundo da arte contemporânea,  o que fica sempre  é um olhar de uma curadoria que nem sempre tem o foco e uma harmonia pra tomada de decisões. A edição de 2008 foi  feita de maneira muito ruim envolta às questões adiministrativas e politiqueiras.
Este ano a Bienal tem como conceito ''a política e a arte'', inspirada no poeta Jorge Lima que diz:  ''Há sempre um copo de  mar para o homem navegar''. 
Nesta edição há 159 artistas , reunindo 800 obras e há a  predominância de vídeos e fotografias. Isto era de se  esperar, pois há uma busca muito grande atualmente pelos mecanismos deste segmentos na arte.  Eu mesmo tenho me norteado sobre o panorama da arte atual que está muito ligado na imagem, inclusive pelos sites da qual participo e contatos com amigos. O próprio blog tem me permitido fazer uma avaliação destas categorias artísticas.
A mostra este ano, agrega a composição de seis espaços chamados  ''terreiros'' com exibição de filmes e palestras. Eles  foram desenhados e dispostos de maneira estratégica  para descanso, reflexão e apresentação de perfomances, no sentido de atender aos pedidos de diversos artistas e arquitetos.
Este ano há uma referência com os anos 60 e 70, com a apresentação das obras de Cildo Meirelles, Ligia Pape  e outros. A apresentação do trabalho destes artistas antigos,   tem a intenção de  mostrar o desdobramento e continuidade da obra  e também  servindo de referência para as  gerações de novos artistas que surgiram.
A relação entre o diálogo  e a poética  na arte do Brasil,  está presente através dos trabalhos de Nuno Ramos e Oswaldo Goeldi.
Há nesta edição os aspectos ligados em mostrar para o público brasileiro a atualidade de novos artistas internacionais engajados em seus trabalhos de cunho social e político. Há os exemplos do  artista, designer e arquiteto chinês Ai Wei Wei, os cineastas  Apicchatopong Weerasethakul (tailandês) e Harun Farocky (alemão de descendência checa) e a fotógrafa americana Nan Goldin.
Os aspectos maiores de  críticas e polêmicas nesta Bienal, foram marcados também pela imprensa mundial presente.
A obra de Gil Vicente, o artista recifense que se auto-retratou matando o Presidente Lula, Fernando Henrique Cardoso e mais sete personalidades políticas do mundo, gerou confusão.
A Ordem dos Advogados de São Paulo (OAB), emitiu uma nota de repúdio e alegação de incentivo ao crime e encaminhou um ofício ao Ministério Público. Tudo isso foi perda de tempo, pois não deu em nada , pois a sarcástica e questionadora obra ficou por lá e deu mais notoriedade ao artista.
Para o artista Gil Vicente seu trabalho mostra o ''desencanto'' com a política e segundo ele,  seu trabalho tem a essência do instinto humano e não tem nada de conceitual ou  intelectual. Eu andei vendo as entrevistas que ele deu e me apaixonei pelo trabalho dele, pelo grau de honestidade e simplicidade apresentados (desenhos-grafites).
Penso que a polêmica causada  foi rídicula, pois em  um país que há um descaramento político de roubo e falcatruas envolvendo os cofres públicos , é uma perda de tempo efetuar um rigor interpretativo, pois em nada muda a visão das pessoas que já estão aculturadas pela mediocridade. É preciso ter um olhar questionador para a obra de Gil Vicente, ele me faz pensar e entender que nós somos seres humanos descontentes com a situação do país, brincamos  e ironicamente dizemos:  ''Políticos ! Tem que matar todos! ''
A outra grande confusão que ocorreu este ano, foi quanto a obra do artista Nuno Ramos com a sua instalação  chamada Bandeira Branca. Em função dele ter colocado três urubus vivos, gerou uma discussão de que as aves  deveriam voltar ao parque ecológico de onde vieram. O IBAMA através da Justiça Federal interpelou a retirada das aves e depois de muito blá, blá, blá, os urubus tiveram que sair. E embora todo encaminhamento de documentos  explicando a obra do artista e  que mostravam a maneira e o cuidado  de como tudo foi  executado, a obra  do artista ficou sem o complemento questionador. Andei lendo os argumentos que Nuno Ramos publicou e confesso que dei razão a ele, pois seu trabalho tinha uma consistência brilhante e os urubus estavam bem tratados, embora longe de seu habitat.
Há ainda mais polêmica nas mensagens  deixadas pelos pichadores.  Na edição anterior, um grupo invadiu e pixou o Pavilhão Cicillo Matarazzo. A polícia foi chamada e uma jovem foi presa. "Naquele momento, a Bienal perdeu a oportunidade de discutir o assunto, ao tratar o tema como mero caso de polícia", segundo o curador Moacir dos Anjos. Agora, a pichação está de volta pela porta da frente. "Ela está presente através de documentação e debates. Não faria sentido oferecer um muro para ser pichado", explica. Segundo ele, o objetivo não é discutir se pichação "é ou não é arte". "Mas nos interessa colocar essas questões", diz. "Se estamos falando de arte e política, não podemos ignorar uma prática que comunica uma visão de mundo".
Outro dado polêmico é a  instalação (a qual achei de mau gosto e banal)  que é  do artista argentino Roberto Jacoby, chamada de ''El alma nunca piensa sin imagem''. A instalação  foi retirada pois infrigia o artigo 37 da Lei 95404/ 97 que proíbe a ''veiculação de propaganda de qualquer natureza em bens públicos'', como é o caso do prédio da Bienal.  Ela introduzia camisetas vermelhas num apologia ao Petismo (PT), uma verdadeira  exaltação política  com imagens imensas plotadas  á favor de Dilma e com José Serra fazendo figuração como adversário político. Quem vive neste país, inteligentemente percebe a fajutice deste argentino, que  tentando usufruir de um universo muito controverso, tratou de um assunto o qual  já estamos acostumados a conviver, que é a imagem da política petista no país. A instalação traduzia uma campanha política, porém não acrescentava como forma nova de expressão em algo que já estamos descolados em avaliar, independentemente de partido.  Faltou orientação total para o  artista argentino, mostrando por outro lado a banalização  e  uma falta de orientação por parte da curadoria da Bienal referente  as leis  deste país.  O argentino pensou que ia exaltar o PT e se estrepou.
Tire suas próprias conclusões sobre estes aspectos. Eu particularmente acho que há coisas para serem pensadas, mas tudo me pareceu um pouco tosco e um aproveitamento de determinadas situações e pessoas,  para gerar polêmica. Há coisas bem interessantes nesta Bienal e merecem ser vistas.
Abaixo estão postados alguns aspectos de algumas obras da Bienal.


A partir de uma única foto do conflito em Sarajevo e uma série de enquadramentos e cortes diferentes, o vídeo traz um discurso do cineasta francês Jean-Luc Godard, com voz em off, sobre a função política da
arte.

A obra de 1979 da italiana Anna Maria Maiolino, em que os grãos germinam nos pratos durante a exposição. A instalação é considerada como um dos principais trabalhos da artista e veio para o pavilhão da Bienal  completar a discussão sobre ''arte e política''.


O artista  português Pedro Barateiro  fez uma plataforma de cimento com cadeiras para falar de relações de poder e de significação em espaços de exibição no tema ''arte e política''.

 

O artista recifense Gil Vicente em frente a sua polêmica obra em que se autoretrata assasinando de Lula  á Busch e sem esquecer da Rainha Elisabeth e mais figuras do mundo da política internacional.

  
Vista panorâmica da instalação de Nuno Ramos com os urubus


Vista de um dos espaços designados como ''terreiros''.


    A pichação  entra em cena  desta vez na Bienal como documentação, fotografias e vídeos

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